Um beijo de (in)gratidão

A concretizar-se, está aberta uma das maiores novelas da actualidade. Trata-se, indubitavelmente, do maior talento jovem das balizas intern...

A concretizar-se, está aberta uma das maiores novelas da actualidade. Trata-se, indubitavelmente, do maior talento jovem das balizas internacionais. Tem o mundo à mercê das suas mãos mas pode escapar por entre os dedos do clube que tudo lhe deu. 


Gigio Donnarumma tem 18 anos e uma época de nível altíssimo pelo A.C. Milan. O clube não está ao nível do que sempre foi, é certo, mas promete reconstruir-se e lutar pelo topo do país e de um continente. Nem tudo é fácil e crescer é um processo gradual, evolutivo, moroso. Assim como foi e é a vida profissional do pequeno gigante. Com meros 18 anos, o italiano procura a via mais fácil para a afirmação no panorama mundial, esquecendo a dimensão de onde veio.

Jurou amor eterno, colou-se a outros nomes da história do clube e beijou repetidamente um símbolo que tudo lhe deu. Se não for já, em Janeiro poderá correr para os braços de outro e o dinheiro que se perde até acaba por agudizar a decepção. Pior ainda, poderá ser o sucessor de Buffon, não só na selecção como na rival Juve. 


Pessoalmente, não entendo o timming de tal atitude. Chegar ao topo nem sempre é ganhar mais - seja esse ganhar correspondente a títulos ou a salário, ainda por cima quando só tens 18 anos. Chegar ao topo é destacar-se em grandes palcos, com grandes exibições e em várias épocas. É crescer sendo a elite da posição, ser reconhecido como um dos melhores independentemente do clube onde joga. De Gea é um dos melhores num 6º classificado de Inglaterra e em contínua renovação, Francesco Totti foi um dos melhores numa Roma que não conseguiu dominar o panorama italiano e Ronaldo Fenómeno marcou gerações sem conquistar qualquer Champions. Até Gigi Buffon caiu com a sua Juve e ajudou-a a reerguer.

Donnarumma, aos 18 anos, precisa de fazer parte de um projecto sólido e ser cabeça de cartaz dele. Precisa de jogar nos grandes palcos e essencialmente aprender, porque por muito bom que sejas estás longe de saber tudo. Precisa de brilhar, errar, aprender, corrigir e aperfeiçoar-se. Tornar-se cada vez melhor. Evoluir e não estagnar. Com esta idade estás muito perto de ser o que quiseres mas muito próximo de não seres ninguém. A linha é ténue e o risco imenso.

Esta atitude pode ser uma manifestação da sua imaturidade ou uma atitude gananciosa de quem o aconselha. Talvez seja um desejo precipitado que se apresenta com um gosto intenso a ingratidão - sei que isto no futebol é relativo, mas existe. Fica sempre aquele travo azedo na boca de quem a prova.

No futebol as carreiras são curtas e as memórias finitas. 

E não é que Donnarumma aparenta ser verdadeiramente precoce em todas as dimensões futebolísticas? 



Tiago Carvalho

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