Peter Rufai: o Príncipe das balizas.

Em África respira-se simplicidade e futebol. Pelo meio da dificuldade, desperta o talento. Mas se a bola nos pés é magia, já as mãos na bol...

Em África respira-se simplicidade e futebol. Pelo meio da dificuldade, desperta o talento. Mas se a bola nos pés é magia, já as mãos na bola são escassez. Faltam guarda redes africanos ao futebol europeu, aos grandes palcos e às suas equipas. Falta qualidade no processo evolutivo. O guarda redes africano luta desalmadamente para se impor no árduo mundo futebolístico. Uma luta contra o tempo e vários preconceitos. Talvez o Camaronês Kameni seja a figura máxima de um Continente, apesar de Enyeama e agora o jovem Onana ameaçarem o trono. Mas, anteriormente, houve outro talento, em plena década de 90, alguém que passou pelo nosso campeonato e abriu caminho para os mais novos. Falamos do Príncipe das balizas que preferiu a bola ao trono: Peter Rufai


Recuemos a 1994. O Farense contratava o guarda redes Nigeriano vencedor da CAN de 94, em solo Tunisino. Peter Rufai já tinha experiência europeia - representara Lokeren, Beveren e Go Aheads -adquirida entre 89-94. Ainda assim, não era um titular absoluto, tampouco um elemento indispensável. Por tudo isso, e movido pelo desejo da aventura, o nigeriano aceitou o desafio e assinou pelos algarvios. Ninguém sabia o que esperar de Rufai, mas ele acreditava no seu valor. O currículo prometia...


E começou a escrever-se uma página bonita para os guarda redes africanos: Foram 34 jogos na Primeira Divisão Portuguesa e apenas 38 golos sofridos. Como se não bastasse, imortalizou o seu nome na história do clube ao garantir, pela primeira vez, a qualificação europeia para a antiga Taça Uefa. Foi rei das balizas algarvias até 1997.


Em 1997, o Hércules contrata-o. Seguia-se a La Liga, o forte campeonato espanhol e mais uma aventura. Os objectivos do seu novo clube eram primitivos: a sobrevivência. O nigeriano tudo deu e tudo fez para evitar a despromoção do clube e, apesar de tudo, o Deportivo da Corunha rendeu-se ao seu valor e juntou-o a Songo`o, outro guarda redes africano. Estávamos em 1998, o ano do Barcelona e a época anterior à do sucesso do Depor - sim, nesta altura o Depor era do caraças!


Mas o banco do Depor incomodou-o. Determinado em regressar à titularidade e a ser feliz, regressou a Portugal, desta vez ao Gil Vicente, em 1999-2000. Aos 37 anos, era um Peter Rufai diferente, mais experiente e viajado, mas sem a disponibilidade física de outros tempos. Apesar das boas mãos não conseguiu agarrar a titularidade. Então lá resolveu pôr um ponto final na sua história e deixar um legado no futebol nacional e europeu. E lá voltou a casa como rei!


Como comecei por dizer, o guarda redes africano tarda em afirmar-se no futebol moderno e nos seus principais palcos. Talvez comece em André Onana um novo ciclo e o fim de um estigma. As lacunas parecem cada vez mais preenchidas e as qualidades técnicas inegáveis.

Para trás fica a vida de um príncipe que abdicou do trono por amor ao jogo. Uma loucura bem ao jeito da bonita década de 90`


Tiago Carvalho

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