O Liverpool FC é um clube especial. Há derrotas, empates, embaraços e fracassos. Há instabilidade, desilusões, frustrações e sonhos quebrados. Mas, apesar dos últimos tempos difíceis, há vitórias a pontapés, carradas de história, glórias, conquistas heróicas e... muita, muita paixão. Os Reds são tão carismáticos que conseguem abraçar fãs em todo mundo, sem ser preciso ganhar títulos em catadupa, terem os melhores do mundo ou jogarem um futebol perfeito. Quem gosta do Liverpool gosta do clube, do ambiente, da mística e da relação dos seus adeptos com os jogadores. Gosta do sofrimento e da humildade, do carácter e da determinação. Gosta, essencialmente, de uma paixão incondicional. E o Liverpool sempre foi isto, fazer vibrar multidões, entoar cânticos de apoio quando todos aguardam um novo fracasso. E há sempre o dia em que o fracasso vem, e os adeptos ainda batem palmas, ainda cantam para os seus jogadores e relembram ídolos e lendas. Ainda beijam o símbolo e choram por ele. Em Anfield acredita-se sempre, aplaude-se sempre, ama-se sempre. Os Reds são grandes e especiais, e assim o serão, para sempre.

Brendan Rodgers saiu e a cadeira de treinador está livre. Está na hora do clube perceber que tem de dar um incremento qualitativo. Antes dos jogadores, o treinador. O Liverpool tem de escolher alguém com provas dadas, confiante, que transpareça essa tranquilidade para os jogadores, que tenha vontade de ganhar e não um medo confrangedor de fracassar. O clube perdeu estatuto e ganhou medo. Rodeou-se de gente pequena demais para o clube, com muitos receios e pouca ambição.

Klopp tinha em Dortmund o que encontrará em Anfield. Uma fortaleza em casa, um apoio incondicional. A estabilidade do clube é suportada pelos seus adeptos e cabe ao treinador fazer ver isso aos jogadores. Depois deLuis Suarez, foram erros atrás de erros. Antes também. Coutinho cresceu num ambiente atípico para um tecnicista pequeno e franzino, prova de que quando o talento existe, sempre impera. Sturridge é um encaixe perfeito no futebol britânico, rápido e tacticamente imperfeito. Benteke é um "bicho" que terá de provar tantos cifrões. Na verdade, foram poucas as contratações de sucesso, muitas as de fracasso. Balúrdios de dinheiro esbanjado em jogadores ingleses (à excepção de Henderson, vejo pouca qualidade nos restantes), típicos de campeonato inglês e de visões errada e tipicamente britânicas. Está na hora de um novo rumo, mais digno e com maior acerto.

Jurgen Klopp viveu o paraíso e o inferno em Dortmund, construiu uma equipa, ganhou homens e jogos, desmoronou um colosso Bávaro e construiu craques. Esteve à beira de apoderar-se da Europa e deixou seguidores um pouco por todo o lado. Klopp, no seu jeito descontraído e irreverente, de fato de treino e chapéu colorido, devolveu a grandeza aoBorussia Dortmund, e reergueu-o. É um líder carismático e agregador de paixões. É o treinador de qualquer jogador e adepto.

Ainda duvidam de quem é o homem certo para este lugar? Acorda, Liverpool. (texto do dia 06 de Outubro de 2015, publicado na Página da Gola no Facebook)

Tiago Carvalho.