3 grandes, 3 visões e 3 maneiras de estar. Um campeonato ao rubro

 "O Gordo", como lhe chamam, ou Bruno de Carvalho, de seu nome, é populista, gosta de meter a boca no trombone e fazer chinfrim a...

 "O Gordo", como lhe chamam, ou Bruno de Carvalho, de seu nome, é populista, gosta de meter a boca no trombone e fazer chinfrim ao mínimo caso. Já Luis Filipe Vieira cimentou a sua posição. Depois do ruído, da guerra declarada ao Porto e do cerrar fileiras, partilha silenciosamente o estrelato com o seu maior "rival". Por fim, existe o "sagrado" Pinto da Costa, o Deus do futebol azul e branco e figura maior do dirigismo português. Em tempos maus, era costume aparecer e serenar qualquer tempestade, falava e extinguia o maior dos ruídos. Contudo, o trono, como se sabe, sempre foi de apenas um. E Pinto da Costa parece ter caído da sua cadeira... 

Quando estamos a poucos dias do arranque da nova época, e ainda com o mercado aberto e indefinido, a Gola do Cantona analisa a maneira de estar de cada um dos grandes.


Luis Filipe Vieira soube escalar, esperar e conquistar. O mérito é-lhe reconhecido porque, no futebol, uma entrada fora do tempo pode ser fatídica e colocar quem a faz fora de jogo, ao invés do adversário. Vieira soube agarrar-se ao que é seu e, agora, uma vez consolidado o seu estatuto e o do seu Benfica, soube manter por perto quem o poderia derrubar. Só o homem sábio reconhece a necessidade das alianças perigosas e forjadas. Hoje fala-se em estrutura e em Vieira. O Benfica recupera a hegemonia recente do futebol nacional e apregoa uma nova visão para futuro. Rui Vitória foi o rosto escolhido para ser o mentor deste novo projecto e, no meio de tudo isso, as peças vão caindo, sem denegrir o prestígio do clube. O Benfica é forte, independentemente de quem por lá passa. É essa a ideia de fundo em que todos acreditam - mais do que nunca. A estabilidade desportiva e a racionalidade económica foram preconizados como os alicerces da dinâmica de vitória que o emblema da Luz recuperou e implantou.


Quanto a Pinto da Costa. este sabe que a "aliança" que manteve com o Benfica, na última época, só (o) retira (do) poder. Lopetegui desdobrou-se em guerras abertas aos encarnados, mas os seus ataques já não se apresentavam com o mesmo fulgor dos de tempos antigos. O Porto, enquanto instituição, não se insurgia contra o Benfica como no passado, naquele seu intuito demolidor. Alguém do Porto, com menor eco, acusava, insurgia-se, repetia-se e parecia desamparado. Sentia-se vítima de um incómodo descrédito por parte da instituição a que pertencia. Pinto da Costa é um dirigente simbólico, mítico e respeitado. Mas cada vez menos preponderante, decisivo e selectivo. O seu coração ainda pode bater (e muito) pelo domínio do seu Porto, mas parece não ter mais "pernas" para este jogo.
Contra tudo e todos, segurou Lopetegui. Ele, que em tempos foi presidente de pouca paciência para tantos treinadores. Voltou a abrir os cordões à bolsa. Chegou a super-estrela Casillas, o perigoso Osvaldo, o rival Maxi e uma promessa de luxo denominada Imbula, entre outros. Matéria prima em número e de qualidade. Mas o Porto parece ter perdido estrutura, aquela que, independentemente do pouco ou muito investimento, acabaria por permitir o sucesso interno ano após ano.


Por fim, Bruno de Carvalho. Sim, o Bruno, o fala-barato. Quando apareceu era só mais um entre tantos, de onde tantos outros saíram e ninguém ficou. Hoje, com muitos ou poucos disparates, com muitas ou poucas discussões, todos o conhecem e falam do Sporting. Atrevo-me a dizer que alcançou o que queria: o populismo, o espaço e o tempo de antena. Queria voltar a incomodar e não ser ignorado, enquanto equilibrava o panorama leonino. Conseguiu-o. Não que tenha escalado o cume da montanha, longe disso, mas começa a tentar importunar quem se encontra no topo. Em resumidas palavras, tem ambição de, pelo menos, mandar abaixo quem já lá está. E Jorge Jesus foi a prova de que sabe incomodar (e muito). Mas Bruno é uma dupla face de um Sporting a quem procuramos conhecer o rosto. O segurar das jóias da academia e o apregoar da aposta na prata da casa como base do equilíbrio do clube, conflituam com a aposta avultada em jogadores como Teo Gutiérrez, Bryan Ruiz e o inesperado Kevin Prince Boateng! É uma aposta de risco num clube da retoma, com a Liga Milionária no horizonte. Mas, à mulher de César não basta sê-lo, é preciso parecê-lo. E o Sporting está a procurar dar o que tem faltado nos últimos anos: títulos e dinâmica de vitória. 
E para o bem ou para o mal, Bruno de Carvalho é o responsável deste "novo" Sporting.

Resumindo, Benfica conquista 6 títulos internos em 2 anos, sente o vento da glória e bóia no mar das conquistas recentes. O Sporting salvou-se do jejum prolongado com uma épica (e milagrosa) Taça de Portugal. É um clube de "comunicados", que são chatos e incomodam. Que tem pés de barro, mas é duro de roer. Importuna. Procura, mais do que nunca, ganhar, sabendo do perigo de afogamento em mar alto. Por fim, o Porto, que nada conseguiu. O Porto que não está em crise e não deixa que se esqueçam do seu grandioso passado, mas o Porto, que é Porto, não fica tanto tempo a ver passar navios. O mar sempre foi água doce para os azuis e brancos. O Porto a que nos habituámos, não é de colher ventos em detrimento de fazer tempestades. O mar costumava ser azul...

Talvez um novo ciclo esteja a nascer. Um diferente panorama.
Este ano o campeonato será "rasgadinho", acreditem.


Tiago Carvalho.



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